
No ímpeto de jogar-me aos Teus pés, caí num precipício sem possibilidade de retorno.
Trazia em mim um peito cheio de vontades, não condizentes à minha posição de escravo.
Teus olhos me fitavam assim, olhando-me sem ver-me.
Tuas mãos se afastavam de mim na busca de outros desejos, sempre buscados, mas nunca alcançados.
Eu ali, à Sua mercê, encantava-me até com Vosso desprezo, sem saber que afundava-me cada vez mais num exílio de mim mesmo me desconhecendo mais a cada noite que passava.
Ao pisar-te Vosso chão, às vezes tropeçavas em mim.
Sempre perto de Teus pés, eu me fazia baixa, quieto e curvava-me à Tua grandeza.
Tu jamais imaginastes que tudo o que eu tinha, vinha das migalhas que por Vós eram depositadas aleatoriamente, sem intenção, nos Teus cantos que se faziam o centro de meu mundo.
Procurava ver em Seus olhos, que por vezes passavam por mim, algo parecido com o que fui um dia, mas nada do que via eram lembranças passadas.
Via apenas desejos de um futuro que para mim era proibitivamente alimentador.
O doce prazer de uma masoquista se faz com a crueldade alheia, então resolvi fazer deste tormento meu lar, destas sobras meu alimento, deste meu canto escuro meu ninho e destas Tuas costas, única visão permitida à mim, a imagem mais bela, que alguém que se contenta com tudo vindo de Ti, possa ter.

Nenhum comentário:
Postar um comentário